Oração à Imaculada Virgem e Mãe de Deus

(Santo Antonio Maria Claret)
Ó Imaculada Virgem e Mãe de Deus, Rainha e Senhora da graça! Dignai-Vos, por caridade, lançar um compassivo olhar para este mundo perdido. Notai como todos abandonaram o caminho que Vosso Santíssimo Filho Se dignou lhes mostrar, esqueceram de Suas santas leis e se perverteram tanto que se pode dizer: “Non est qui faciat bonum, non est usque ad unum — Não existe quem faça o bem, nem um sequer” (Ps. 55, 4). Neles se extinguiu a santa virtude da Fé, de modo que quase ela não é encontrada na terra. Ai! Extinta esta divina luz, tudo é obscuridade e trevas, e não sabem aonde caem. Entretanto, juntos vão com passo apressado pelo largo caminho que os conduz à eterna perdição.
E quereis Vós, minha Mãe, que eu, sendo um irmão destes infelizes, olhe com indiferença sua total ruína? Ah, não! Nem o amor que tenho a Deus nem o que tenho ao próximo o podem tolerar. Porque como se dirá que tenho caridade ou amor de Deus se, vendo que meu irmão está em necessidade, não o socorro? Como terei caridade se, sabendo que em um caminho há ladrões e assassinos que roubam e matam a quantos por ele transitam, sem embargo não advirto disto aos que para ele se dirigem? Como terei caridade se, sabendo que os carnívoros lobos estão degolando as ovelhas de meu senhor, calo? Como terei caridade se emudeço ao ver como roubam os ornamentos da casa de meu Pai, peças tão preciosas que custam o sangue e a vida de um Deus, e ao ver que puseram fogo na casa e na propriedade de meu amadíssimo Pai?
Ah! Não é possível calar, minha Mãe, em tais ocasiões. Não, não calarei, ainda que soubesse que de mim hão de fazer pedaços. Não quero calar. Clamarei, gritarei, bradarei ao céu e à terra a fim de que se remedei tão grande mal. Não calarei. E se de tanto gritar se tornar rouca ou muda minha garganta, levantarei as mãos ao céu, eriçar-se-ão meus cabelos, e as pancadas que com os pés darei no chão suprirão a falta de minha língua.
Portanto, minha Mãe, desde já começo a falar e a gritar. Já recorro a Vós, sim, a Vós que sois Mãe de misericórdia: dignai-Vos dar socorro a tão grande necessidade. Não me digas que não podeis, porque sei que na ordem da graça sois onipotente. Dignai-Vos, vos suplico, dar a todos a graça da conversão, pois que sem esta não faríamos nada. E então enviai-me e vereis como se convertem. Sei que dareis esta graça a todos os que realmente a pedirem. Porém, se eles não a pedem é porque não conhecem sua necessidade, e tão fatal é seu estado que não conhecem o que lhes convém, e isto justamente me move ainda mais à compaixão.
Portanto, eu, como primeiro e principal pecador, a peço por todos os demais e me ofereço como instrumento de sua conversão. Ainda que esteja desprovido de qualquer dote natural para este fim, não importa, “mitte me — eis me aqui, enviai-me!” (Is. 6, 9), assim se verá melhor que “gratia Dei sum id quod sum — Mais por graça de Deus sou isto que sou” (I Cor. 15, 10). Talvez me direis que eles, como doentes frenéticos, não quererão escutar quem os quer curar, pelo contrário me desprezarão e perseguirão de morte. Não importa, “mitte me”, porque “esse anathema pro fratribus meis — pois desejaria ser eu mesmo anátema por parte de Cristo em favor de meus irmãos” (Rom. 9, 3). Ou então me direis que não poderei sofrer tantas impertinências de frio, calor, chuvas, nudez, fome, sede, etc. Não há dúvida que por minha parte nada posso suportar, mas confio em Vós e digo: “Omnia possum in ea quae me confortat — Para tudo sinto forças naquele que me conforta” (Fil. 4, 13).
Ó Maria, Mãe e esperança minha, consolo de minha alma e objeto de meu amor! Lembrai-vos das muitas graças que Vos pedi e de que me concedestes todas. Exatamente agora encontrarei esgotado este manancial perene? Não, não se ouviu, nem jamais se ouvirá, que nenhum devoto vosso tenha sido rechaçado por Vós. Já vês, Senhora, que tudo isto que Vos peço se dirige para a maior glória de Deus e Vossa e para o bem das almas: por isso espero alcançar e o alcançarei. E para que Vos movais a me concedê-lo o mais brevemente, não alegarei méritos meus, porque não tenho senão deméritos. Dir-Vos-ei, sim, que como Filha que sois do Pai Eterno, Mãe do Filho de Deus e Esposa do Espírito Santo, é muito adequado que zeleis pela honra da Santíssima Trindade, de que é imagem viva a alma do homem, além do que esta imagem está banhada com o sangue de Deus humanado.
Tendo Jesus e Vós tanto feito por ela, agora a abandonareis? E’ verdade que deste abandono é merecedora. Mas por caridade Vos suplico que não a abandoneis. Vo-lo peço pelo mais santo e sagrado que há no céu e na terra. Vo-lo peço por Aquele mesmo a quem eu, ainda que indigno, hospedo todos os dias em minha casa, Lhe falo como Amigo, Lhe mando e me obedece, descendo do Céu à minha voz. Este é Aquele Deus que Vos preservou da culpa original, que Se encarnou em Vossas entranhas, que Vos cumulou de glória no Céu e Vos fez advogada dos pecadores. E Este, apesar de ser Deus, me ouve, me obedece cada dia. Ouvi-me, pois, ao menos desta vez, e me digneis conceder a graça que Vos peço. Confio que o fareis, porque Vós sois minha Mãe, meu alívio, meu consolo, minha fortaleza e todas as coisas depois de Jesus. Viva Jesus, viva Maria! Ámen.
Jaculatória: Ó Jesus e Maria! O amor que Vos tenho me faz desejar a morte para poder estar unido a Vós no Céu. Porém é tão grande este amor, que me faz pedir uma longa vida para ganhar almas para o Céu. Ó amor! Ó amor! Ó amor!