Luz brilhantíssima da Igreja nascente

Dr. Plinio salienta o papel da Santíssima Virgem enquanto Medianeira de todas as graças, nas etapas iniciais da vida da Igreja.

 

Comentaremos trechos de um livro sobre Nossa Senhora(1), o qual contém pensamentos muito piedosos e bonitos, próprios a intensificar nossa devoção à Santíssima Virgem.

É um tanto difícil, conhecendo nós as poucas palavras de Nossa Senhora referidas no Evangelho, formarmos inteiramente idéia, do que possa ter sido a mentalidade e o espírito dEla.

Naturalmente, o mais poderoso dos meios que temos para retraçar o perfil moral de Nossa Senhora é compará-La com Seu Divino Filho.

Mas Nosso Senhor é tão alto — Ele é Divino — que, mesmo se referindo à Mãe dEle, a comparação tem qualquer coisa pela qual não se ajusta bem. Aliás, toda comparação claudica, e essa especialmente.

Então, somos obrigados a procurar outras formas para conhecer algo do espírito de Maria e do conteúdo de Seu Imaculado Coração. Um dos meios bonitos consiste em estudar a vida de São João Batista.

Porque São João Batista foi santificado no seio de Santa Isabel pela palavra de Maria Santíssima comunicando ao Precursor, misteriosamente, o espírito dEla. E tudo quanto São João Batista fez em sua vida decorreu dessa graça inicial a qual, pelos rogos dEla, foi constantemente intensificada, até chegar ao auge, quando ele morreu.

E São João Batista, enquanto asceta austero, pregador do Cordeiro de Deus que viria, herói que enfrenta Herodes e morre como mártir sublime de grandeza e de serenidade, é uma das facetas do espírito de Nossa Senhora.

Outra faceta muito bonita, é a seguinte: Nossa Senhora é a Sede da Sabedoria; portanto, nEla está contida toda a sabedoria que vem de Deus para depois ser concedida  aos homens.

E como tal — a respeito disso pouco se fala — estando a Virgem Maria presente entre os Apóstolos, é impossível que estes tenham trabalhado, ensinado a respeito de Nosso Senhor Jesus Cristo sem consultá-La. E que os evangelistas tenham escrito os Evangelhos, sem recorrerem freqüentemente a Ela porque o espírito dos Evangelhos é o próprio espírito de Nossa Senhora.

Essa relação da Virgem Maria com a pregação da Igreja nascente, e mais especialmente com o Evangelho, fica expressa em termos bonitos por este trecho do livro:

“Nossa Senhora foi o oráculo vivo que São Pedro consultou nas suas principais dificuldades.”

São Pedro, o primeiro Papa, o chefe da Igreja.

“A estrela que São Paulo não cessou de olhar para se dirigir em suas numerosas e perigosas navegações.”

Naturalmente, refere-se às navegações, em sentido figurativo.

“Nada se fez senão de acordo com o conselho e a direção de Nossa Senhora.”

Temos então uma linda visualização: a Igreja nascente, com todos aqueles lances maravilhosos, foi inspirada e dirigida por Nossa Senhora.

É verdade que São Pedro era o Papa e detinha o poder sobre a Igreja. Porém, estava ele completamente submisso a Nossa Senhora e, em São Pedro, era a Santíssima Virgem que dirigia os demais Apóstolos.

“Então Ela verdadeiramente preencheu a significação de seu nome simbólico.”

O autor apresenta uma linda interpretação do nome de Nossa Senhora, como Sede da Sabedoria — o foco da ortodoxia e da boa doutrina — que me pareceu muito bonita.

Pois, diz São Boaventura, o nome de Maria pode traduzir se por essas palavras:

Maria é aquela que é iluminada por cima e espalha, por todo lugar, e em todas as direções, a luz. Quer dizer, é verdadeiramente a medianeira da luz. Toda a sabedoria e toda a luz que vem de Deus, passam por Ela e através dEla, como Medianeira, se difundem por todos os homens.

Então, quem quiser receber a sabedoria, e progredir nessa virtude, deve recorrer a Nossa Senhora que é, por definição, pelo mesmo conteúdo de seu nome, um foco de luz celeste que se espalha pela humanidade inteira.

O autor argumenta muito bem: era possível haver entre os Apóstolos este foco, sem que ele não os iluminasse? Tudo quanto os Apóstolos fizeram e os evangelistas escreveram não era senão a luz que procede desse foco!

Então, estudar a Virgem Maria como inspiradora da mentalidade, do espírito dos Apóstolos e evangelistas, aos quais forneceu as informações para pregarem e escreverem é uma coisa que nos faz entrever cenas maravilhosas.

Imaginemos a Mãe de Deus, tendo ao seu lado São Paulo, São Pedro, São João Evangelista, contando, explicando, interpretando, ajudando-os a ver melhor tais e tais fatos da vida de Nosso Senhor, pondo em realce este, aquele outro fato, sendo, portanto, o aroma do bom espírito perfumando a Igreja inteira!

Compreendemos assim o papel de Nossa Senhora presente e visível na Igreja nascente, o que é uma coisa verdadeiramente maravilhosa.

Continua o autor:

“Se os evangelistas quiseram recolher os principais fatos da vida de Jesus e seus ensinamentos mais importantes a fim de nos transmitir os seus escritos autênticos, eles recorreram a Maria.

“Foi a Ela que eles pediram os esclarecimentos necessários sobre a Encarnação.”

De fato, a quem pedir informações e esclarecimentos sobre a Encarnação, a não ser a Ela?

“Pois, disse o Cardeal Hugo, Ela fez de seu coração o tesouro das palavras e das ações de Seu Filho, a fim de os comunicar em seguida aos escritores sagrados.”

Mais uma vez se apresenta esta idéia: Nossa Senhora é o vaso que recolheu todos os ensinamentos de Nosso Senhor os quais foram distribuídos para os Apóstolos e à Igreja desde seu nascedouro até hoje. Não só, portanto, no que está escrito, mas, em importantíssima parte, na Tradição da Igreja.

“Nenhuma criatura, diz Santo Agostinho, jamais possuiu um conhecimento das coisas divinas e do que se relaciona com a salvação, igual à Virgem bendita. Ela mereceu de ser a mestra dos apóstolos e é Ela que ensinou aos evangelistas os mistérios da vida de Jesus”.

É um santo que escreveu isso. Vejamos agora o que afirma um grande autor espiritual, o abade Rupert:

“E os outros, é verdade, diz o abade Rupert, podem ser chamados Doutores. Mas Maria é muito mais do que isso, Maria é a Mestra dos Doutores. É a Doutora dos Doutores.”

Vemos assim o esplendor da alma santíssima de Nossa Senhora, bem como o papel da ortodoxia e da sabedoria em Sua santidade. Não é um papel colateral como a “heresia branca(2)” imagina, mas fundamental. Aí temos um vislumbre que nos pode ajudar a aumentar nosso amor a Maria Santíssima.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 11/7/67).

 

1) Por não ter sido feita a devida anotação quando Dr. Plinio pronunciou esta conferência, desconhecemos o nome do autor e o título do livro citado.

2) Expressão metafórica criada por Dr. Plinio para designar a mentalidade sentimental que se manifesta na piedade, na cultura, na arte, etc. As pessoas por ela afetadas se tornam moles, medíocres, pouco propensas à fortaleza, assim como a tudo que signifique esplendor.