A história das aparições de Nossa Senhora das Graças

A Medalha Milagrosa revelada a Santa Catarina Labouré

Voz misteriosa da graça que ressoais no silêncio dos corações! Assim nos fala aquela que é a Mãe da Divina Graça.

Quando pela primeira vez abrimos nossos olhos para este mundo, já sobre eles pousava cheio de complacências o celeste e virginal olhar de Nossa Senhora das Graças.

Olhar puríssimo, olhar sacratíssimo, sumamente régio, olhar indizivelmente materno de Maria que nos fita no decorrer de nossa vida, multiplicando os sinais da presença “quão santa, quão serena, quão benigna, quão amena” (Hino “Ave Mundi) Virgem Santíssima.

Presença constante a ornar com graças sempre novas e mais intensas aqueles que em obediência às palavras da Santíssima Virgem trazem sempre consigo a Medalha Milagrosa:

“Todas as pessoas que a usarem receberão grandes graças, trazendo-a ao pescoço”.

A santa que recebeu as revelações

A origem da Medalha Milagrosa remonta ao início do século XIX.

Em 1806, exatamente no ano em que os exércitos de Napoleão espalhavam a Revolução Francesa por toda a Europa, a Providência fazia nascer na região da Borgonha, na França, uma menina destinada a representar um imenso papel em seu tempo e nos séculos futuros. Talvez, até o fim do mundo.

Catarina Labouré aos nove anos perdeu sua mãe, de origem distinta ligada a pequena nobreza de Fain-les-Moutiers.

Todas em lágrimas, sobe ela então em um móvel, e declara, abraçando uma imagem da Virgem: “Agora vós sereis minha Mãe” .

E Maria Santíssima, correspondendo a tanto afeto por Ela mesmo inspirado tornou-se de modo especial mãe de Catarina.

Certa vez, um sonho deixou-a intrigada: após celebrar missa na igrejinha de Fain-les-Moutiers, um velho e desconhecido padre, cujo olhar muito a impressionara, faz-lhe um sinal para que se aproxime. Tomada pelo temor, ela recua, mas sempre fascinada por aquele olhar.

Ainda em sonho, ao sair da igreja para visitar uma enferma, encontra-se com o velho padre que lhe disse: “Minha filha, tu agora me foges, mas um dia serás feliz em vir a mim. Deus tem desígnios sobre ti. Não o esqueças…”.

Catarina não entendeu…

Aos dezoito anos, uma enorme surpresa: ao entrar no parlatório da Casa das Filhas da Caridade em Châtillon-sur-Seine, onde fora estudar com uma prima, depara-se com um quadro que retratava… o mesmo ancião de cujo olhar jamais se esquecera: era, nada mais nada menos, São Vicente de Paulo, fundador das Filhas da Caridade, que confirmava e indicava assim a vocação religiosa de Catarina.

Entretanto, foi só aos 23 anos, que superando todos os obstáculos familiares que procuravam impedi-la de seguir os caminhos que Deus lhe traçara,

Catarina obteve autorização para entrar como postulante, exatamente na casa das Filhas da Caridade de Châtillon-sur-Seine, onde, seis anos antes, tivera a grata surpresa surpresa de rever o velho padre de seu sonho de menina.

Três meses depois, no dia 21 de abril de 1830, transpôs pela primeira vez os umbrais do noviciado das Filhas da Caridade, em Paris, na Rue du Bac.

Passados alguns dias, com a presença do Arcebispo de Paris, Monsenhor de Quélen, deu-se a solene trasladação, num esplêndido relicário de prata, do corpo incorrupto de São Vicente de Paulo, da catedral de Notre-Dame à capela de Saint Lazare, onde até hoje encontra-se exposto à veneração dos fiéis.

Aparições do coração de São Vicente

Foi durante a semana que se seguiu a essa glorificação de São Vicente, ao retornar da Capela dos Lazaristas, onde as Filhas da Caridade faziam todos os dias uma novena ante a relíquia de seu fundador, que Catarina, na Rue du Bac, teve suas primeiras visões.

          “O coração de São Vicente me apareceu três dias seguidos, de modos diferentes:

 Primeiro me apareceu na cor branca, cor de carne, o que anunciava paz, inocência e união;

 Depois o coração tinha uma cor vermelho fogo: devia acender a caridade no coração. Parecia-me que isso significava que a comunidade deveria se renovar e estender-se até as extremidades da terra;

 Por fim, apareceu-me num tom vermelho escuro: o que me encheu a alma de tristeza. Produziu em mim um temor que eu tinha dificuldade em dominar. Também não sei dizer como nem porquê, essa tristeza se relacionava com a mudança de governo”.

Mas, seu confessor, o Pe. Aladel, aconselhou-a: “Não escutes estas tentações. Uma Filha da Caridade é feita para servir os pobres e não para sonhar”.

Nosso Senhor lhe aparece

A Providência, entretanto, preparava a alma de Catarina para as revelações de Nossa que se haviam de seguir, elevando suas cogitações para os grandes interesses da Igreja e da civilização cristã:

“Eu era – relata a Santa – favorecida com uma outra graça: a de ver Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento durante todo o tempo de meu noviciado, menos todas as vezes que eu duvidava.

No dia da Santíssima Trindade, em 6 de junho, Nosso Senhor me apareceu como Rei com a cruz sobre o peito. No momento do Evangelho, pareceu-me que Nosso Senhor era despojado de todos os seus ornamentos, caindo tudo por terra. Foi então que tive os mais negros e tristes pensamentos. O rei da terra seria perdido e despojado de suas vestes reais.”

Catarina que focalizava a interpretação da visão que tivera no rei da França, Carlos X, tentou transmitir suas apreensões ao Pe. Aladel. Mas ele não deu a menor importância.

Primeira aparição de Nossa Senhora

Transcorrido pouco mais de um mês, na noite anterior ao dia da festa de São Vicente, 19 de julho, Catarina vê pela primeira vez a Rainha do Céu e da terra.

Haviam-nos distribuído as noviças um pedaço de roquete de linho de São Vicente.   “Eu cortei a metade e o engoli, adormecendo com a ideia de que São Vicente me obteria a graça de ver a Santíssima Virgem,

Enfim, às onze e meia da noite, ouvi que me chamavam pelo nome: Irmã Labouré, Irmã Labouré!

Acordando, corri a cortina (que envolvia meu leito) e vi um menino de quatro ou cinco anos, vestido de branco, que me disse:

Venha para a Capela! A Santíssima Virgem te espera!

Eu me vesti depressa e me dirigi para o lado do menino, que ficara de pé. Eu o segui. Ele estava sempre à minha esquerda.

Por todos os lugares onde passávamos as luzes (as velas) estavam acesas. O que me deixou muito espantada. Mais surpresa ainda fiquei ao chegar à capela. O menino tocou apenas com a ponta do dedo e a porta se abriu! Minha surpresa foi muito maior porque vi que todas as velas e castiçais estavam acesos como se fosse missa de meia-noite.

Afinal, quando chegou a hora, o menino me avisou: Olhe! É a Santíssima Virgem! Ei-la!

Ouvi então um ruído como o “fru-fru” de um vestido de seda que partia do lado direito do altar. Em seguida, vi uma senhora de extraordinária beleza sentar-se na cadeira que o diretor da comunidade costumava utilizar e que fica do lado esquerdo.”

Seguindo o impulso de seu coração, Catarina pôs-se bem junto à Santíssima Virgem, apoiando suas mãos sobre os joelhos de Nossa Senhora, como teria feito com sua mãe…

“Ali se passou o momento mais doce de minha vida. Seria impossível exprimir tudo o que senti. Ela me disse: Minha filha, quero encarregar-vos de uma missão. Tereis muito que sofrer, mas vós superareis esses sofrimentos pensando que o fareis para a glória do bom Deus. Sereis contraditada, mas tereis a graça, não temais!

Sereis inspirada em vossas orações….

Os tempos são muito maus, calamidades virão precipitar-se sobre a França. O trono será derrubado. O mundo inteiro será transtornado por males de toda ordem. (ao dizer isto, a Santíssima Virgem tinha um ar muito penalizado).

Mas vinde ao pé deste altar: aí as graças serão derramadas,… sobre todas as pessoas, grandes e pequenas, particularmente sobre aqueles que as pedirem… O perigo será grande, entretanto, não temais, o bom Deus e São Vicente protegerão a comunidade.”

Nossa Senhora revela: Haverá vítimas… as ruas estarão cheias de sangue…

No seu manuscrito, Santa Catarina continua a relatar a primeira aparição da Santíssima Virgem na noite de 18 para 19 de julho de 1830.

Nossa Senhora adverte:

“Minha filha, eu gosto de derramar graças sobre a comunidade em particular. Eu a aprecio muito. Sofro porque a grandes abusos na regularidade. As Regras não são observadas. Há grande relaxamento nas duas comunidades.

“Dizei-o àquele que está encarregado de uma maneira particular da comunidade. Ele deve fazer tudo que lhe for possível para repor a regra em vigor. Dizei-lhe, de minha parte, que vigie sobre as más leitura, as perdas de tempo e as visitas.

“Conhecereis minha visita e a proteção de Deus e de São Vicente sobre as duas comunidades. Mas não se dará o mesmo com outras congregações. Haverá vítimas… (ao dizer isto a Santíssima Virgem tinha lágrimas nos olhos) No clero de Paris haverá vítimas, Monsenhor Arcebispo (a esta palavra, lágrimas de novo).

“Minha filha, a Cruz será desprezada e derrubada por terra. O sangue correrá. Abrir-se-á de novo lado de Nosso Senhor. As ruas estarão cheias de sangue. Monsenhor, o Arcebispo, será despojado de suas vestes (aqui a Santíssima Virgem não podia mais falar; o sofrimento estava estampado em suas faces). Minha filha – me dizia Ela –   o mundo todo estará na tristeza. A estas palavras, pensei quando isto se daria. Eu compreendi muito bem: quarenta anos.”

De fato, quatro décadas depois, a França e Alemanha entravam em guerra…

Segunda aparição de Nossa Senhora – A Medalha Milagrosa

Quatro meses já haviam decorrido desde a primeira aparição de Nossa Senhora, que deixara em Santa Catarina profundas saudades e um imenso desejo de rever a Mãe de Deus.

Eis como em seus manuscritos a própria noviça das Filhas da Caridade narra a segunda Aparição:

“No dia 27 de novembro de 1830… vi a Santíssima Virgem. Ela tinha uma estatura média e era tão bela que me seria impossível descrevê-la. Estava de pé e trajava um vestido de seda branco-aurora que a cobria até o pescoço e tinhas as mangas lisas.

Um véu branco lhe cobria a cabeça e descia de cada lado até os pés. Estes estavam apoiados sobre o que parecia ser a metade de uma esfera.

Suas mãos estavam colocadas à altura da cintura, de modo muito natural e portavam um globo de ouro, que representava o universo.

Sob o véu, vi os cabelos lisos repartidos ao meio e sobre eles uma cobertura adornada com uma renda de mais ou menos três centímetros e apoiada ligeiramente sobre os cabelos.

Seu rosto estava bem descoberto e os olhos estavam voltados para o Céu…

Uma luz se irradiava de seu rosto enquanto Ela oferecia o globo a Nosso Senhor.

De repente, percebi que em seus dedos havia anéis revestidos de pedras, umas mais belas que as outras. Umas maiores e outras menores, das quais saíam raios, cada qual mais belo que os outros.

Das pedras maiores partiam os raios mais belos que se projetavam e cobriam toda a parte de baixo. Eu não podia ver mais os seus pés…

Estando assim a contemplá-la, a Santíssima Virgem voltou seus olhos para mim. Uma voz se fez ouvir, dizendo-me estas palavras:

” – A esfera que vedes representa o mundo inteiro, particularmente a França e cada pessoa em particular…

“Aqui eu não sei exprimir o que senti e o que vi, a beleza e o fulgor, os raios tão belos…

‘É o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que mas pedem’, fazendo-me compreender quanto é agradável à Santíssima Virgem e quanto Ela é generosa para com as pessoas que a Ela rezam, quantas graças concede às pessoas que lhas rogam, que alegria Ela sente concedendo-as… Nesse momento formou-se em torno da Santíssima Virgem uma moldura de formato quase oval, onde, no alto, havia estas palavras: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós’, escritas em letras de ouro….

Então, uma voz se fez ouvir, que me disse: ‘Fazei, fazei cunhar uma medalha com este modelo.

Todas as pessoas que a usarem receberão grandes graças, trazendo-a ao pescoço. As graças serão abundantes para as pessoas que a usarem com confiança…. ‘

Nesse instante, o quadro me pareceu se voltar, onde vi o reverso da medalha.

Preocupada em saber o que era preciso por do lado reverso da medalha, após muitas orações, um dia, na meditação, pareceu-me ouvir uma voz que me dizia:

‘O M e os dois Corações dizem o suficiente.'”