Grandeza e bondade de Deus

Há belezas da natureza cuja formação desenrolou-se tão somente na presença de Deus, mas que eram destinadas por Ele para dar ao homem uma ideia do Céu, onde os legítimos anseios de grandeza, isolamento e convívio são plenamente atendidos.

 

Essa é uma lindíssima fotografia dos Alpes, tirada a partir de um avião. Talvez fosse interessante mostrar o contraste desse panorama com outros aos quais estamos habituados.

Grandeza e isolamento num píncaro nevado

Neva em pouquíssimos lugares do território brasileiro. Alguma coisa em Santa Catarina. Em Campos de Jordão não me consta que caia neve, mas de vez em quando forma-se uma espécie de geada muito grossa, a qual dá um pouco a impressão de neve.

Nessa fotografia temos caracterizada a paisagem coberta de neve, com toda a poesia e até magnificência que ela traz consigo.

Entretanto, confesso que o mais bonito do panorama, a meu ver, não é a neve, mas a configuração desse monte, com essa crista que chega bem no alto e, depois, levanta-se mais outra crista. O bloco onde está esse monte me sugere a ideia de uma fortaleza medieval. Nota-se ser ele cercado de uma muralha natural. Sua forma vagamente circular imita a de muitas fortalezas medievais. No centro da área fortificada se encontraria o castelo, e ali, como se fosse uma torre prodigiosa, esse outro píncaro mais alto.

O homem não pode olhar para uma paisagem como essa sem se imaginar a si próprio nesses píncaros, e que sensação ele teria se estivesse lá no alto. Se ele tivesse, por exemplo, meios financeiros e técnicos para construir uma fortificação naquele mais alto píncaro, o que sentiria? Tal pergunta não é a de um sonhador imbecil, mas é um modo de degustar melhor um panorama.

Esse homem teria a sensação de estar colocado no alto de uma grandeza colossal. Se possuísse um castelo cobrindo aquele píncaro, sentir-se-ia o castelão dos castelões, alguém que está numa altura fantástica a partir da qual ele domina, pelo olhar e pelo pensamento, tudo quanto de contemporâneo se desenvolve aos seus pés.

Mas ele sentiria, em compensação, um isolamento tremendo, porque a neve não é o seu “hábitat” natural. O homem não foi feito para viver na neve, e sim para morar em lugares onde de vez em quando neva. É verdade que os esquimós e outras populações conseguem viver num panorama nevado assim, mas em condições de vida inteiramente primitivas e com um desenvolvimento cultural dos mais elementares.

Céu: píncaro onde se unem as alegrias do isolamento e do convívio

A neve vista assim dá a impressão de um panorama no qual o homem está tão isolado como se estivesse na Lua, separado de seus contemporâneos, de todo mundo, incompreensível para todos, dominando tudo do alto, mas sofrendo daquilo que Deus diz no Gênesis, antes de criar Eva: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2, 18). O isolamento, sobretudo quando é tornado mais imponente e esmagador pela grandeza, é uma coisa que pesa enormemente.

Um castelão morando nesse castelo imaginário, acompanhado apenas de dois ou três serviçais, vendo os dias se sucederem às noites e as noites aos dias, as tempestades de neve ou as nuvens que cercam de todos os lados, dando a impressão de o castelo estar voando, sentirá em determinadas horas um tal isolamento que poderá tornar-se angustiante.

Por outro lado, para quem não vive na neve, mas na trivialidade do dia a dia, há uma vontade de sair da banalidade, um desejo de voar para dentro dos horizontes da grandeza.

O ser humano é de maneira tal que, se tem elevação de alma e se encontra, por exemplo, na Praça do Patriarca no centro de São Paulo, vendo esse panorama, poderia pensar: “Mas como seria bom eu estar lá no alto!” Entretanto, quem estivesse no cume da montanha, se lhe mostrassem a Praça do Patriarca e lhe oferecessem descer, seria capaz de ter a fraqueza de dizer: “Então, vamos, porque lá é bem quentinho e gostosinho”.

Contudo, há um pouco de verdade em ambas as atitudes.

Considerando isso compreendemos melhor o Céu. Porque o Paraíso é de uma elevação, de uma altitude – não física, mas moral – incomparável. Mas, de outro lado, ali não se está só. O homem se encontra na presença d’Aquele que é sua finalidade, ele sente a companhia absoluta para a qual foi criado. Em presença de Deus ele está como que embriagado da alegria de ter contato e de conversar com Ele, Deus: infinitamente mais alto do que esse monte, mas ao mesmo tempo infinitamente mais condescendente, afável e amoroso do que as ideias que essa montanha sugere.

Ademais, no Céu a pessoa está inserida em toda a corte celeste, passa a ser príncipe dela. É a corte dos bem-aventurados, dos Santos e dos Anjos. Eles têm ali a felicidade completa que reúne as alegrias aparentemente contraditórias de fazer parte de uma multidão e de estar num píncaro sozinho. Ali se está no mais alto dos píncaros, cercado e num convívio idealmente afetuoso, respeitoso, amável, com a mais perfeita das multidões, que é a multidão imensa daqueles que se salvam.

Belezas que se desenrolaram aos olhos de Deus

Nessa outra fotografia vemos o céu azul, o dia límpido e podemos apreciar melhor a beleza, a magnificência dessa localização. Dir-se-ia que algo de semelhante aos contornos de uma fortaleza medieval ainda se torna mais claro do que na fotografia anterior, mas parecendo mais uma cratera de vulcão da qual saiu, em determinado momento, das entranhas mais quentes da terra uma matéria qualquer incandescente, levada por um jato enorme e que, quando chegou em cima, petrificou-se no frio e formou isso que vemos.

Não havia homens na Terra quando fatos geológicos assim deram origem aos panoramas que hoje existem. Mas que coisas lindas nessa ocasião se desenrolaram aos olhos de Deus! Através de paisagens como essa Ele nos faz suspeitar um pouco quais as belezas por Ele criadas antes de nós existirmos. Nesse sentido, quando milhares e milhares de anos antes dessas montanhas terem sido conhecidas pelo homem, Deus as modelou com a intenção principal de dar aos homens a oportunidade de fazer estas ou melhores reflexões a respeito da grandeza e da bondade d’Ele.               v

 

Plinio Corrêa de Oliveira, (Extraído de conferência de 21/12/1988)