O Apelo à consideração da Vida Eterna

 

A Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, uma das crianças a quem Nossa Senhora apareceu em Fátima, é autora do livro intitulado APELOS DA MENSAGEM DE FÁTIMA.
Ela trata sobre os diversos convites feitos pela Mãe de Deus à humanidade durante as aparições.

Apelo à Consideração da Vida Eterna

No 12o. Apelo, Lúcia comenta:

Todos nós ambicionamos conservar a vida temporal, que passa com os dias, os anos, os trabalhos, as alegrias, as penas e as dores. Mas quão pouco nos preocupamos com a vida eterna! E, no entanto, esta é a única verdadeiramente decisiva e que perdura para sempre.

Deus, ao criar os seres humanos, deu-lhes por destino a vida eterna na participação da Sua vida divina. “Por isso, Deus criou o homem à Sua imagem; criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher” (Gn 1,27), explicando a seguir que “o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo” (Gn 2,7). Vemos aqui que o corpo humano foi tirado do pó da terra, mas a vida recebeu-a o homem do próprio Ser de Deus, do sopro criador dos Seus lábios. Por isso, a nossa alma é um ser espiritual que participa da vida de Deus e é imortal. Quando o corpo fica reduzido à impossibilidade absoluta de cooperar com a ação da alma, esta abandona-o e voa para o seu centro de atração que é Deus.

Céu ou Inferno

Mas a nossa participação da vida eterna deverá ser decidida entre duas realidades bem distintas: o Céu ou o Inferno.

No apelo à devoção do Coração Imaculado de Maria, vimos como existem duas gerações distintas, entre as quais reina a inimizade, sendo, por isso, opostas entre si: a geração de Satanás, que arrasta pelo caminho do pecado, e a geração do Coração Imaculado de Maria, que, como Mãe dos filhos de Deus, os leva pelo caminho da verdade, da justiça e do amor. Porque Deus é Amor; e todos os Seus filhos se distinguem pelo amor! E enquanto os filhos de Deus se elevam pelo caminho do amor à posse da eterna felicidade no Reino de Deus, seu Pai, a geração de Satanás, pela torpeza do pecado, desce ao abismo do eterno suplício.

Não falta, no mundo, a incredulidade dos que negam estas verdades, mas o certo é que elas não deixam de existir pelo fato de eles as negarem; nem a sua incredulidade os livra das penas do Inferno, se a sua vida de pecado aí os conduzir.

Jesus Cristo, no Evangelho, nos alerta sobre o Inferno

Na Sagrada Escritura, abundam as passagens que nos falam da existência do Inferno, dos seus tormentos e dos que para lá vão. Assim, no Juízo final, aos que não quiserem cumprir as obras de misericórdia será sentenciado: “Afastai-vos de Mim, malditos, para os fogos eternos, que está preparado para o Diabo e para os seus Anjos (…). E estes irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna” (Mt, 25,41.46).

Prevenindo os discípulos contra a tentação do orgulho pelos êxitos conseguidos na missão que realizaram, Jesus Cristo afirmou: “Eu vi Satanás cair do céu como um raio” (Lc 10, 18). E, quando lhes fez as Suas recomendações apostólicas, disse: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma” (Mt 10,28). Falando da ressurreição final, Jesus conclui deste modo a parábola da rede, que, lançada ao mar, recolhe toda a casta de peixes, tocando depois ao pescador fazer a seleção: “Assim será no fim do mundo: sairão os Anjos e separarão os maus do meio dos justos e lança-los-ão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13,49-50). E não deixam dúvidas estas palavras do Senhor:

“Se a tua mão é para ti ocasião de pecado, corta-a; mais vale entrares mutilado na Vida do que, tendo as duas mãos, ires para a Geena, para o fogo inextinguível, onde o verme não morre e o fogo não se apaga (…). E, se o teu olho é para ti ocasião de pecado, arranca-o; mais vale entrares com um só olho no reino de Deus, do que, tendo os dois olhos, seres lançado na Geena onde o verme não morre o fogo não se apaga” (Mc 9,43-48).

Nestas passagens, Jesus fala do fogo do Inferno e da eterna condenação; e refere-Se ao mesmo em tantas outras partes do Evangelho, que seria demasiado longo transcrevê-las aqui.

A última, que transcrevemos, não significa que Deus queira que arranquemos os olhos ou cortemos as mãos ou os pés, mas que arranquemos e cortemos as tentações, más inclinações, paixões e vícios que nos arrastam pelo caminho do pecado e podem ser, por isso, causa da nossa condenação eterna.

 Antigo Testamento e os tormentos dos condenados

No Antigo Testamento, encontramos textos que, lidos hoje na fé da Igreja, lhe proporcionam os primeiros fulgores da revelação divina das verdades que ela nos ensina, como, por exemplo, esta da existência do Inferno. É o caso do seguinte texto de Isaías, descrevendo a desgraça dos que não quiseram seguir a Lei de Deus:

“A mão do Senhor manifestar-se-á aos Seus servos, e a Sua ira aos Seus inimigos. (…) Verão os cadáveres dos que se revoltaram contra Mim, cujo verme não morrerá e cujo fogo não se extinguirá, e serão um objeto de horror para todos” (Is 66, 14.24).

E no livro da Sabedoria, o Espírito Santo assim descreve as lamentações feitas pelos que se condenaram, ao verem a salvação dos justos: “Então, com grande confiança, o justo levantar-se-á em face daqueles que o atribularam e desprezaram as suas obras. Ao verem-no, os maus perturbar-se-ão com temor horrível e ficarão fora de si, perante a repentina salvação do justo. Arrependidos, dirão entre si, gemendo na angústia da sua alma: (Sb 5, 1-23).

“Este é aquele de quem nós, outrora, fizemos escárnio e a quem loucamente cobrimos de opróbrio! Consideramos a sua vida uma loucura, e a sua morte uma vergonha. Como é contado entre os filhos de Deus e tem a sua sorte entre os santos?

“Portanto, nós nos extraviamos do caminho da verdade; a luz da salvação não brilhou para nós, e o sol não se levantou sobre nós. Nós manchamo-nos na senda da iniqüidade e da perdição, erramos pelos desertos e caminhos e ignoramos o caminho do Senhor! De que nos aproveitou o nosso orgulho e de que nos serviu a riqueza unida à arrogância? Tudo isso desapareceu como a sombra, como uma notícia que passa, como um navio que vai cortando as ondas agitadas, sem deixar rasto da sua passagem, nem da esteira da sua quilha nas ondas. (…) Assim também nós, apenas nascidos, deixamos de ser; e não podemos mostrar nenhum traço de virtude. Fomos consumidos na nossa malícia… (…)

“Mas os justos viverão eternamente, a sua recompensa está no Senhor; e o Altíssimo cuidará deles. Por isso, receberão um glorioso reino e um diadema brilhante da mão do Senhor; que com a Sua direita os protege e os defende com o Seu braço (…). Tomará a santidade como um escudo impenetrável (…). A iniqüidade fará de toda a terra um deserto, e a malícia derribará os tronos poderosos”

A devoção ao Imaculado Coração de Maria: caminho para a salvação eterna

E poderíamos continuar a transcrever passagens da Sagrada Escritura, onde Deus nos fala da existência da vida eterna, feliz ou desgraçada, segundo as nossas obras a merecerem. A nós que temos fé, basta-nos a palavra de Deus que o atesta, porque nós sabemos que a Sua palavra é a verdade.

Em Fátima, Ele enviou-nos a Sua Mensagem, como mais uma prova destas verdades, que no-las vem recordar, para que não nos deixemos iludir pelas falsas doutrinas dos incrédulos, que as negam e dos transviados, que as deturpam. Com este fim, a Mensagem nos assegura que é verdade existir o Inferno e que vão para lá as almas dos pobres pecadores: “Vistes o Inferno (disse a Mensagem aos pobres pastorinhos de Aljustrel) para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas a terão paz” (Nossa Senhora, 13 de Julho de 1917).

E a Mensagem, depois de ter mostrado às pobres crianças a horrível visão do inferno, Indica-nos uma vez mais a devoção ao Coração Imaculado de Maria como caminho para a salvação: “Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz” . Paz com a própria consciência, paz com Deus, paz nos lares e paz nas famílias, paz com os vizinhos e entre as nações.

   “Fazei o que Ele vos disser!”

Essa paz, pela qual o mundo tanto anseia e tanto dela se afasta, porque não ouve e não segue a palavra de Deus! Daí estas palavras da Mensagem: “Se fizerem o que Eu vos disser…”. E o que é que Nossa Senhora nos diz?

Continuaremos a vê-lo na descrição dos apelos da Mensagem. De momento, lembro-vos uma página do Evangelho de S. João, na qual encontramos como que o “Mandamento de Maria”. Celebraram-se umas bodas em Caná da Galiléia, tendo tomado parte nelas Jesus Cristo, Sua Mãe e os discípulos. Ora Maria, a certo momento, observou que faltava o vinho e participou a seu Filho o embaraço da situação, que deixaria os noivos mal colocados. E, tendo apresentado a situação a Jesus, Maria disse aos serventes: “Fazei o que Ele vos disser”. Estes obedeceram, e o Senhor converteu a água em vinho (Jo 2, 1-10). Poderíamos considerar este como o mandamento de Maria: Fazei o que Ele vos disser. Segui a Palavra de Deus, que é Jesus Cristo, o Seu Verbo!

Essa ordem vem de uma Mãe sempre solícita em conduzir os filhos para os braços do Pai, porque só aí poderão encontrar o Caminho da Verdade para a Vida. Ela mesma é Mãe, porque seguiu este caminho, o da Palavra do Pai: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” – respondeu Ela ao Anjo quando este lhe transmitiu a palavra de Deus (Lc 1,38). E esta fé na palavra de Deus foi-lhe elogiada pela sua prima Isabel: “Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1,45). Confirmam tudo isto as seguintes palavras de Jesus Cristo: “Todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está nos Céus, esse é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe” (Mt 12,50).

Foi assim que os serventes mereceram ver o milagre da transformação da água em vinho; fizeram o que Maria lhes ordenou e seguiram a palavra de Jesus. Este é o caminho da salvação: ouvir a palavra de Deus e segui-Ia.  (Pgs. 129 a 134)

Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado,
uma das videntes de Nossa Senhora em Fátima, Portugal, em 1917.