Devoção ao Imaculado Coração de Maria

 

Medianeira Universal

Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. Querer rezar sem a intercessão dEla é o mesmo que pretender voar sem asas, diz Dante. Se desejamos que nossos atos de amor, de louvor, de ação de graças e de reparação cheguem até o trono de Deus, devemos depositá-los nas mãos de Maria Santíssima. Seria ridículo imaginar que Nossa Senhora constitui um desvio, e que atingimos mais diretamente a Deus se não nos dirigirmos a Ela. O contrário é verdade. Só por meio dEla é que chegamos a Deus. Prescindir de Nossa Senhora para chegar a Jesus Cristo, sob o especioso pretexto de que Ela constitui um anteparo entre nós e seu Divino Filho, é tão estulto quanto pretender analisar os astros sem telescópio, “diretamente”, por imaginar que o cristal das lentes representa um anteparo entre os astros e nós. Quem quisesse fazer astronomia “diretamente”, a olho nu não faria astronomia, mas tolice. Pretender ter vida de piedade sem o auxílio de Nossa Senhora é o mesmo que fazer astronomia a olho nu.

Assim a Mãe de Deus é o canal de todas as preces que chegam até seu Divino Filho e o caminho de todas as graças que Este outorga aos homens.

Evidentemente esta verdade supõe que, em todas as orações que façamos, peçamos explicitamente a Nossa Senhora que nos apóie. Esta prática seria sumamente louvável. Mas ainda que não invoquemos declaradamente a intercessão de Nossa Senhora, podemos estar certos de que só seremos atendidos porque Ela reza conosco e por nós.

A eficácia de nossas preces se deve à intercessão de Maria Santíssima

Daí se infere uma conclusão sumamente consoladora. Se devêssemos confiar apenas em nossos méritos, como poderíamos confiar na eficácia de nossa prece?

Conta-se que certa vez Nosso Senhor apresentou-Se em uma visão a Santa Teresa de Jesus, trazendo nas mãos algumas uvas maravilhosas. Perguntou a Santa ao Divino Mestre o que significavam as uvas, e Ele respondeu que eram uma imagem da alma dela. Olhou então a Santa detidamente para as frutas e, à medida que as examinava, sua primeira impressão, que fora magnífica, se desfazia, e dava lugar a uma impressão cada vez mais triste. Cheias de manchas e de defeitos, as uvas acabaram por parecer repugnantes à grande Santa. Compreendeu ela, então, o alto significado da visão. Mesmo as almas mais perfeitas têm manchas, quando atentamente examinadas. E quais as manchas que podem escapar despercebidas ao olhar penetrante de Deus? Por isto, tinha muita razão o Salmista, quando exclamava: Senhor se atenderdes a nossas iniqüidades, quem se sustentará em Vossa presença?

E se não há quem não apresente manchas aos olhos de Deus. Quem pode esperar com plena segurança ser atendido em suas orações?

Por outro lado. Deus quer que nossas preces sejam confiantes. Não deseja Ele que nos apresentemos ante Seu trono como escravos que se aproximam com medo de um temível Senhor, mas como filhos Que se acercam de um Pai infinitamente generoso e bom. Essa confiança é mesmo uma das condições da eficácia de nossas preces. Mas como teremos confiança, se, olhando para nós sentimos que nos faltam as razões de confiar? E se não temos confiança como esperamos ser atendidos?

É das tristezas desta reflexão que nos arranca, triunfalmente a doutrina da Mediação Universal de Maria.

De fato, nossos méritos são mínimos, e nossas culpas, grandes. Mas o que não podemos alcançar por nós temos todo o direito de esperar que as preces de Nossa Senhora alcancem.

E jamais devemos duvidar de que Ela se associe a nossas preces. Quando convenientes à maior glória de Deus e à nossa santificação. De fato, Nossa Senhora tem a cada um de nós um amor que só de modo imperfeito pode ser comparado ao amor que nos tem nossas mães terrenas. Diz São Luís Maria Grignion de Montfort que Nossa Senhora tem ao mais desprezível e miserável dos homens um amor superior ao que resultaria da soma do amor de todas as mães do mundo a um filho único. Nossa Mãe autêntica na ordem da graça, Ela nos gerou, a cada um de nós, para a vida eterna. E a Ela se aplica fielmente a frase que o Espírito Santo insculpiu na Escritura: Ainda que teu Pai e tua Mãe te abandonassem, Eu não me esqueceria de ti. É mais fácil sermos abandonados por nossos pais segundo a natureza, do que por nossa Mãe segundo a graça.
Assim, por mais miseráveis que sejamos, podemos com confiança apresentar a Deus nossas petições: sempre que forem apoiadas por Nossa Senhora, encontrarão um valor inestimável aos olhos de Deus. Que certamente obterá para nós o favor pedido.

O lmaculado Coração de Maria: inestimável fonte de graças para o católico de nossos dias

O mesmo se diga a respeito do papel da Santíssima Virgem em nossa santificação. Não são poucos os católicos que, verificando a imensa desproporção que existe entre a debilidade das forças humanas e a dureza da luta que a preservação da virtude impõe, se deixam arrastar a uma moral minimalista, cheia de combinações com o espírito do século. E, para isto, os pretextos, as razões falsas porém verossímeis não lhes faltam. Apelam para a fraqueza moral do homem contemporâneo, para as mil dificuldades que a civilização moderna cria para a prática da virtude, etc.

De uma coisa, entretanto, se esquecem: por mais fraco que seja o homem, a graça de Deus é invencível. Quando a graça de Deus encontra o apoio de uma correspondência generosa no homem, ela pode milagres. Tudo posso nAquele que me conforta, escreveu São Paulo. Com o auxílio de Deus, as crianças, as donzelas, os anciãos, enfrentavam no Coliseu os mais terríveis tormentos. Será possível que o cristão católico de nossos dias não possa enfrentar os perigos da civilização moderna?

A questão, para dilatarmos as fronteiras da Santa Igreja por todo o universo, não consiste em afrouxarmos a invariável doutrina de Jesus Cristo. Saibamos viver a vida da graça, com a plena correspondência de nosso livre arbítrio. Saibamos procurar a graça nas fontes onde realmente ela jorra, e com o auxílio dela nos tornemos fortes para todas as austeridades que o Espírito Santo de nós exige. Entre essas fontes da graça está sem dúvida, em lugar relevantíssimo, a devoção ao Coração Imaculado de Maria.

Porta do Céu aberta para a fraqueza do homem contemporâneo

Na Sagrada Escritura encontramos esta frase: porque foram fracos, eu lhes abri uma porta que ninguém poderá fechar. Esta porta, aberta para a fraqueza do homem contemporâneo, é o Coração Imaculado de Maria. Com efeito, nada nos pode dar maior confiança, esperança mais fundada, estímulo mais certo, do que a convição de que em todas as nossas misérias, em todas as nossas quedas não temos apenas, a nos olhar com o rigor de Juiz, a infinita Santidade de Deus, mas também o coração cheio de ternura, de compaixão, de misericórdia de nossa Mãe Celeste. Onipotência Suplicante, Ela saberá conseguir para nós tudo quanto nossa fraqueza pede para a grande tarefa de nosso reerguimento moral. Ainda que os horizontes pareçam prestes a verter sobre nós um novo dilúvio, ainda que os caminhos se cerrem diante de nós, os precipícios se abram, e a própria terra se abale debaixo de nossos pés, não percamos a confiança: Nossa Senhora superará todos os obstáculos que forem superiores às nossas forças. Enquanto esta confiança não desertar de nossa alma, a vitória será nossa, e de nada valerão os ardis de nossos adversários. Com este Coração, todos os terrores se dissipam, todos os desânimos se esvaem, todas as incertezas se desanuviam.

O Imaculado Coração de Maria é a Porta do Céu, aberta de par em par aos homens de nosso tempo, tão extremamente fracos. E esta porta “ninguém a poderá fechar”, nem o demônio, nem o mundo, nem a carne.

Se queremos salvar o mundo, apregoemos a devoção ao lmaculado Coração de Maria

Há ainda outro aspecto a se considerar nessa devoção. Talvez o mais importante de todos. Com efeito, fazer apostolado é, essencialmente, salvar almas. Aos que se interessam pelo apostolado, nada deve importar mais do que o conhecimento das devoções providenciais com que o Espírito Santo enriquece a Santa Igreja em cada época, para a utilidade das almas.

Aparecendo em Fátima Nossa Senhora disse textualmente aos pastorinhos que uma intensa devoção ao Coração Imaculado de Maria seria o meio de salvação do mundo contemporâneo. Milagres sem conta têm atestado a autenticidade da mensagem celeste. Não nos resta senão nos conformarmos ao ditame que dela decorre. Se essa é a salvação do mundo se queremos salvar o mundo apregoemos o meio providencial para sua salvação.

No dia em que tivermos legiões de pessoas verdadeiramente devotas do Coração Imaculado de Maria, o Coração de Jesus reinará sobre o mundo inteiro. Com efeito, essas duas devoções não se podem separar. A devoção a Maria Santíssima é a atmosfera própria da devoção a Nosso Senhor. O verão traz as flores e os frutos. A devoção a Nossa Senhora gera como fruto necessário o amor sem reservas a Nosso Senhor Jesus Cristo. E, no dia em que o mundo inteiro voltar a Jesus por Maria, o mundo estará salvo.

Para todas as almas apostólicas é, portanto, de primordial importância o culto ao Imaculado Coração de Maria.

Autor: Extraído dos seguintes artigos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicados no semanário O Legionário: “A Medianeira Universal”, 1/6/1941; e “O livro do momento”, 30n/1944.